A cruz é o símbolo maior do cristianismo. Ela representa o objetivo último do cristão, a vitória do espírito sobre a carne, da luz sobre as trevas, da vida sobre a morte.
Muito se tem pregado ultimamente nas igrejas cristãs sobre a graça de Deus em nossas vidas, sobre as Suas promessas e abundantes bênçãos, que estão à disposição de todos que se proponham colocar a sua fé em ação.
Entretanto, muito pouco se tem pregado sobre a mensagem da cruz e o seu profundo significado na vida do verdadeiro cristão.
A missão de Cristo neste mundo atingiu seu ápice com o sacrifício de sua vida humana sobre uma cruz, e neste sacrifício reside todo o sentido de sua passagem pela Terra.
Disse o Filho de Deus:
“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (Mt:16-24)
e também:
“E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.” (Mt:10-38)
Mas o que significa exatamente esta cruz referida por Cristo, em nossas vidas?
Para entendermos claramente o significado destas palavras de Jesus, é necessário primeiro compreender o significado pleno do sacrifício de sua morte.
A Bíblia deixa claro que a razão espiritual da morte de Cristo foi a nossa redenção, a nossa justificação perante Deus, uma vez que por nossa natureza corrompida, não poderíamos por nós mesmos promover esta reconciliação.
Jesus incorporou ali, sobre o madeiro tosco, a natureza corrupta de todos os homens e através de um ato supremo de amor e compaixão, nos libertou desse estigma existencial terrível, o qual adquirimos através de todos os nossos erros, desde o princípio dos tempos.
Ao se entregar ao poder do homem, nas mãos de seus algozes, Jesus negou a si mesmo, abdicando de sua natureza e perfeita e onipotente, para que fosse possível dali em diante, a todo homem, resgatar a sua herança de vida eterna em comunhão com o Pai.
Normalmente, a idéia que se faz da cruz é a de que ela representa o fardo de todas as tribulações por quê passamos no mundo, ou o peso individual de uma responsabilidade penosa, a que estamos sujeitos por imposição do meio em que vivemos.
Mas ao refletir detidamente sobre a palavra de Deus, vê-se que o significado espiritual da cruz tem um sentido bem mais restrito e, ao mesmo tempo, bem mais profundo. Na verdade, a cruz simboliza tão somente os sacrifícios, constituídos das provações e renúncias que devemos assumir, de forma a cumprir o sublime mandamento de Cristo:
“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.” Mt:5-48
Assim foi a cruz de Cristo, embora o seu sacrifício não fosse em prol de Sua perfeição, uma vez que já era perfeito, mas em prol de nossa salvação.
Entretanto, para nos reconciliarmos plenamente com Deus, não basta crer em Cristo e nos comovermos com este ato supremo de abnegação e compaixão.
Cristo abriu a porta para a redenção espiritual do homem, mas para passarmos por esta porta, é necessário um sacrifício pessoal. A sua morte nos libertou de nosso passado de pecado, e pela graça divina, conquistou para nós o direito de sermos chamados novamente de filhos de Deus.
Cristo foi o supremo sacerdote que, ungido por Deus, realizou o sacrifício perfeito e definitivo, pelo qual obtivemos o pleno perdão por todos os nossos erros passados, não tendo mais portanto que oferecer nenhum sacrifício material em holocausto, pela remissão de nossos pecados.
“Mas Cristo, tendo vindo como sumo sacerdote dos bens já realizados, por meio do maior e mais perfeito tabernáculo (não feito por mãos, isto é, não desta criação),e não pelo sangue de bodes e novilhos, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez por todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção.” Hb:9-11-12
Entretanto, Jesus deixou claro que, quem não toma a sua cruz pessoal e não o segue não é digno de seu sacrifício. Mas o quê significa para nós este sacrifício pessoal?
Jesus não tinha pecado, e o que ele sacrificou na cruz foram nossos pecados passados, nossa culpa ancestral perante Deus.
Cristo sepultou com Ele o velho arquétipo do homem em pecado, isto é, escravo de suas concupiscências e sujeito a uma Lei de sacrifícios materiais pessoais, para sua própria remissão:
“Sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado.” Rm:6-6
“Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.” Rm:6-14
Entretanto, o sacrifício de cristo não torna perfeita nossa natureza, automaticamente. Fomos libertos, mas continuamos pecando, por nossa vulnerabilidade humana, embora agora sejamos capazes de vencer o pecado em nossas vidas:
“Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas concupiscências” Rm:6-12
e ainda que voluntariamente não pequemos, carregamos em nossa psique traços que nos predispõem permanentemente ao erro.
Para sermos perfeitos, à imagem e estatura de Cristo, temos que oferecer em holocausto o nosso ego crucificado, para que Deus possa assim nos transformar, como santo oleiro, em vasos de glória.
Se desejamos verdadeiramente seguir a Jesus, e sermos dignos de seu sacrifício redentor, precisamos assumir a nossa cruz, e nos alegrarmos com ela, pois assim fazendo, já não viveremos mais por nossas próprias forças, mas seremos sustentados pela força e pelo amor de Jesus:
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” Gl:2:20
Somente aquele que oferece a sua vida pessoal em sacrifício, à semelhança de Cristo, pode nascer de novo, e herdar uma vida incorruptível, de plenitude espiritual e comunhão com Deus.
Imagino a trave horizontal desta nossa cruz pessoal significando a submissão às provações pelas quais devemos passar, a fim de expurgar de nossa alma nossos defeitos e construir um caráter digno do reino de Deus.
Mas não a submissão passiva e irrefletida, mas a submissão consciente, tendo a necessária noção do mal que cada um desses defeitos causa em nossa vida e na vida dos que nos cercam.
Imagino também a viga vertical, como símbolo da da renúncia que devemos voluntariamente exercer, com relação às nossas paixões carnais, aos nossos desejos mesquinhos e às nossas ambições egocêntricas, em favor do servir a Deus e a nosso semelhante, da obediência aos ensinamentos de Cristo..
É somente através do sacrifício de nosso ego, sobre a nossa cruz pessoal, que poderemos nos tornar dignos de receber um dia as vestes brancas e a nova identidade, o novo nome de que nos fala o Cristo ressurrecto:
“O que vencer será assim vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida” Ap:3-5
"Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe." Ap.2:17
Extraido Portas Abertas.